setembro 08, 2004

Balanço 1997

Reflexão sobre, talvez, o ano mais importante da minha vida. Acho interessante chegarmos ao final do ano e fazermos uma pequena reflexão sobre o que se passou nesse mesmo ano. Tenho pena de nunca mais o ter feito, ou pelo menos de o deixar escrito.
Gostava de voltar a sentir a energia que senti neste ano. Gostava de voltar a sentir as coisas daquela maneira. Gostava de deixar de ser péssimista e ser "inocentemente" feliz. Aliás, se eu pudesse, tinha congelado o tempo naquela altura, pelo menos antes da morte do meu avô!
Balanço do ano de 1997

Com eu digo, várias vezes, a vida é difícil de compreender. Acontece sempre alguma coisa que no deixa ou perplexos, ou contentes.
Agora dizer que um ano onde aconteceram alguns desastres, foi um ano bom, talvez o melhor da minha vida, pode parecer estúpido. Mas não é, estúpido é este mundo e a humanidade que o governa.
Este foi um ano que ficará sempre e para sempre no meu coração!
Foi um ano em que consegui realizar a maior parte dos meus desejos e durante o qual aconteceram-me as coisas mais fantásticas.
Um ano em que consegui finalmente criar, juntamente com alguns colegas, um mini-cineclube. Se bem que esse cineclube provocasse algumas dúvidas em relação à suas estrutura. Esse cineclube teve desde o princípio vários problemas, o maior deles todos foi a falta de espectadores. Problemas esse que só conseguimos vencer na recta final, quando já nos declarávamos vencidos e que, perante a ideia de uma professora e o empenhamento de alguns alunos, incluindo eu, conseguimos fazer duas últimas sessões com lotação quase esgotada.
Foi um ano em que conseguimos publicar uma revista multimédia, de seu nome CA2, que provocou algumas reacções na imprensa pública.
Foi, também, um ano em que fiz uma viagem paradisíaca a Paris, onde ficaram para sempre na minha memória uma Marlene, uma Filipa, uma Ana, uma Dália Dias e todas as outras pessoas que partilharam comigo aquele momento. Viagem esta que me mostrou, além da linda cidade que é Paris, que a vida às vezes, e só às vezes, tem momentos belos. Para mim, “Eles terão sempre Paris” (In Casablanca de Michael Curtiz), tal como Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Bergman), viveram momentos inesquecíveis em Paris, também eu os vivi no mesmo local.
Foi, igualmente, um ano em que fiz uma viagem alucinante a Évora, onde ficaram para sempre na minha memória um Freitas, um Rui Almeida, uma Dália Dias (mais uma vez), uma Patrícia e uma Bárbara, estas últimas que tiveram, também, o prazer de partilhar comigo a paradisíaca viagem a Paris. Foi nesta viagem que descobri que não vale a pena ficar parado à espera da morte, e que vale a pena viver a vida, mas vivê-la com intensidade, e que por mais dissabores e desgostos que ela traga, devemos procurar passar por cima, ultrapassá-los, porque afinal a vida é boa e vale a pena vivê-la.
Foi, mais uma vez, um ano em que finalmente consegui ouvir de uma professora que era o melhor aluno da turma, e que consegui comprová-lo. Foi um ano em que consegui provar, e descobrir, que não era burro nenhum e que conseguia ser superior a outros. Foi um ano em que dei uma lição de moral aos meus colegas, mostrando-lhes que a visão que eles tinham da vida e do futuro estava errada.
Foi um ano onde fiz uma grande viagem pela Europa, onde ficaram na minha memória uma Veneza fantástica, uma Florença assombrosamente espectacular, uma Verona por descobrir e uma Barcelona absolutamente alucinante. Foi, também, nessa viagem que descobri o quão chatos são os meus pais, tanto a mãe, que eu já conhecia essa faceta, como o pai, o qual me surpreendeu, pois nunca pensei que ele conseguisse ser mais chato que a minha mãe, coisa difícil de se concretizar.
Foi um ano em que eu tive algumas aventuras e desventuras. Algumas aventuras que se calhar gostaria que tivessem sido algo mais de concreto, outras as quais não me importei que fossem só aventuras.
Mas, principalmente, em primeiro lugar, em primeiríssimo lugar, muito acima das coisas que já foram descritas, este foi um ano que me provocou uma grande tristeza, levando embora uma pessoa de quem eu muito gostava e que ficará para sempre e sempre, não na memória, mas no coração. Essa pessoa que infelizmente, ou felizmente, a morte decidiu visitar, foi uma pessoa que me ensinou muitas coisas, mesmo na sua recta final. Foi uma pessoa que com a sua ida me levantou uma tremenda raiva pela vida, mas que, depressa se dissipou e que, com a qual, aprendi o que é viver, o que significa viver, o que custa viver, mas, principalmente, a viver. Foi uma pessoa a que devo tudo pelo que fez por mim, pelo carinho que deu por mim, por tudo..... Nunca, mas nunca, esquecerei tudo o que aprendi com ela antes e depois da sua ida, para o outro lado. Foi talvez toda essa tristeza, toda essa fúria, raiva, ódio, pudor, que fizeram a viagem a Évora, realizada poucos dias depois da sua ida, uma viagem completamente alucinante.
Resumindo todas estas coisas e outras que não estão aqui reveladas, contribuíram para que este fosse o melhor ano da minha vida. Foi um ano em que eu consegui provar que o meu pensamento, a felicidade só traz tristeza, é verdadeiro e perfeitamente aplicado à raça humana, da qual eu não quero pertencer (a visita da morte). Mas, consegui, também, dar a volta a esse pensamento e contrariá-lo, vivendo, logo após essa tristeza, um dos momentos mais belos da minha vida (a viagem a Évora).
Foi um ano em que suei e sofri muito, mas foi um ano em que eu, finalmente, consegui por momentos ser feliz, coisa rara nos dias de hoje. Vivi mais neste ano, do que certas pessoas em dois anos. Aprendi muito sobre a vida e, consegui descobrir, que a vida é bela e vale a pena lutar e procurar pelo que de belo ela nos oferece, nem que para isso tenhamos que suar, sofrer, ou até mesmo cair.
Este ano ficará no meu coração.
Hugo Valter Moutinho

P.S. - Vivi muito este ano, poderia chegar ao exagero de dizer que nada mais me resta viver depois disto. É verdade que depois de tudo o que se passou neste ano, tudo o resto é banal, mas eu vou continuar a viver a minha vida intensivamente, sempre que for possível, porque ainda tenho muito que aprender e viver.
Posso não aceitar bem a raça humana, posso não gostar deste mundo, mas eu não pedi para vir para cá, e já que cá estou quero procurar o que de belo cá há. Mesmo que seja difícil, num mundo tão ingrato.
1997

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