setembro 02, 2004

AIDS No More (I)

Este conto é muito confuso para mim. Não sei que raio é que me deu para escrever este conto ainda por cima com a Sida como pano de fundo.
Eu agora acho-o um pouco estúpido, "elementar, meu caro Watson", não me diz nada, mas não deixa de ser importante, pois não deixa de ser o meu primeiro conto, a minha primeira experiência numa história longa, a minha primeira grande ficção e, tal como eu disse no "Prólogo (I)", bons ou maus, os meus textos seriam publicados neste blog.
Além disso é a primeira história em que a Morte aparece como salvação, algo que eu já andava a perseguir por uns tempos e isso é igualmente importante, se bem que aqui, a meu ver, a ideia não é muito bem sucedida, talvez por isso eu não fiquei por aqui e resolvi explorar o tema por outro lado no meu segundo conto "Morte e Salvação" e, muito mais tarde, em "A Corda no Pescoço".


AIDS NO MORE


I

Consultório de um hospital. James encontrava-se sentado em frente a um médico

— Então, doutor? — perguntou James, já impaciente — O que se passa? Quais foram os resultados dos testes?
— Tenho que lhe dizer duas coisas, — disse Watson, com um ar muito sério — uma boa, outra má.
— Comece pela má noticia, doutor.
— Os testes deram positivos.
— Então quer dizer que eu.... — disse James, faltando-lhe a voz de tão nervoso que estava.
— ...Que tu tens a SIDA!! — interrompeu Watson, mostrando também um certo nervosismo.
Houve um certo momento de silêncio, enquanto os dois se olhavam mutuamente.
— E qual é... — disse James com um certo receio — a boa notícia?
Watson tomando um ar sério para disfarçar o seu nervosismo disse:
— Por incrível que pareça, o teu organismo tem um sistema de combate super-poderoso que não deixa o vírus da SIDA, o HIV, actuar. Isto é: estás completamente fora de risco de morreres através deste vírus.
— Quer dizer.... Não corro qualquer risco de este vírus me afectar?
— Sim, és o único caso no mundo que está nessa situação. Mas... queria-te pôr uma questão.
— Diga. Não tenha qualquer receio. Afinal, já somos amigos à 12 anos. — disse James, aliviado do susto que tinha apanhado.
— Bem... — disse Watson, pausadamente —Eu queria-te perguntar se não te importavas de fazer uns testes para percebermos em que consiste esse sistema de combate, e, talvez, encontrar uma cura para a SIDA.
James ficou, durante alguns momentos, estático, sem mover músculo algum. As suas feições mostravam algum receio, medo. Suspirou algumas vezes, depois respirou fundo e perguntou:
— E não há qualquer perigo?
— Não, não! — respondeu rapidamente Watson — Não há qualquer tipo de perigo. São uns testes normalíssimos.
— Watson... — disse James, ainda pensativo — dá-me um tempo para pensar. Eu depois dou-te uma resposta..
— Tens todo o tempo para pensares. Quando quiseres vem cá, ou , se preferires, telefona-me.
James cumprimentou Watson e dirigiu-se para a porta:
— Até à próxima, Watson.
— Adeus, James. Pensa bem no assunto antes de dares uma resposta.
James apanhou um Taxi e foi para casa.
Aquilo era demais para a vida sossegada que levava. De um momento para o outro torna-se o único homem à face da terra portador de um sistema de combate ao vírus da SIDA.
Depois de ter pago o táxi, dirigiu-se para casa. Entrou e chamou a sua mulher, Christine:
— Christine! Christine!
— És tu Jim? — perguntou uma voz vinda da sala — Estou aqui na sala.
James dirigiu-se para a sala. Christine estava a ver televisão.
— Então como correram os testes? — perguntou Christine.
— Deram positivo... — respondeu James, inquieto — Sou portador do vírus HIV.
— Mas então... — exclamou Christine apavorada.
— Não te preocupes. — respondeu James e, na tentativa de a acalmar, explicou-lhe tudo o que se tinha passado naquele consultório.
Christine ouviu tudo com muita atenção e no final já se encontrava mais calma.
— Mas tu vais fazer esses testes?
— Não sei!.... — disse James, ainda pensativo — Fiquei de dar uma resposta. Tenho nas minhas mãos uma responsabilidade enorme. São milhares e milhares de pessoas que eu posso salvar.
James passou os dias seguintes bastante pensativo. Tinha medo de ser a “cobaia” de médicos curiosos, de estar a ser inspeccionado como se fosse um extraterrestre.
II

Quando James, finalmente, chegou a uma conclusão foi até ao consultório de Watson. Foi o caminho todo a reflectir na sua decisão.
Entrou no hospital, dirigiu-se ao consultório e bateu à porta.
— Entre — disse Watson, que estava a estudar uma fichas médicas.
James entrou e sentou-se.
— Ah! És tu. — disse Watson, que não tinha reparado que era James que tinha entrado — Estava a pensar em te telefonar. — Watson fez uma breve pausa antes de continuar a falar — Já chegaste a alguma conclusão?
— Já! — respondeu James com voz seca — Estou disposto a fazer os testes.
— Ainda bem que tomaste essa atitude. Não é por nós, é por aquilo que podes fazer a milhões de pessoas com SIDA.
— Essa foi a razão que me levou a aceitar a proposta.
Watson pegou no telefone, falou com uma rapariga e marcou os testes.
— Dia 12. Pode ser? — perguntou Watson a James.
— Por mim pode ser — respondeu James, olhando para o calendário que estava na parede.
Watson pousa o telefone, escreve umas anotações no caderno e, depois, olha para James e disse-lhe:
— Não tenhas receio. Vai correr tudo bem. Os testes vão começar no dia 12 às 9:30 da manhã.
— E vou ter que ficar internado? — perguntou James.
— Só nos primeiros três dias, depois, se quiseres, podes ir para casa. Mas tens de vir cá todos os dias.
— E os testes vão demorar quanto tempo?
— Devem demorar, sensivelmente, três a quatro meses. Mas isso vai-se vendo ao longo dos testes.
— Então dia 12 às 9:30 cá estou. — disse James, apertando a mão a Watson.
— Cá estarei à tua espera.

Dia 12 8:45
James estava nervosíssimo. Ia passar três meses no hospital a ser cobaia de médicos malucos.
Eram 9:00 quando James saiu de casa e se dirigiu para o hospital. Chegado ao hospital foi até ao consultório de Watson.
— Bom dia, Watson! — disse James, um tanto ou quanto nervoso — Estou atrasado?
— Não, — disse Watson, olhando para o relógio — até estás adiantado. Então? Muito nervoso?
— Um bocado
— Não te preocupes! — disse Watson passando as mãos pelos ombros de James — Vai correr tudo bem. Acompanha-me.
James seguiu Watson até uma sala de operações. Watson apresentou os médicos que iriam fazer parte do exame: Dr. Brie, Dr. Stone, Dr. Donald e Dr. Sheen.
— São estes — disse Watson, depois de ter apresentado os médicos — os médicos que te vão examinar. Eu tenho total confiança neles. Boa Sorte! — Watson despediu-se de James com um cumprimento de mão e saiu da sala.
— Nós vamos-lhe dar uma anastesia geral, — disse Dr. Donald — por isso só deve acordar lá para o fim da tarde.
— Deite-se aqui se faz favor! — disse Dr. Brie, apontando para uma cama. James deitou-se. Dr. Stone aplicou-lhe uma injecção e passado alguns segundos James adormeceu.
III

Quando acordou, James sentiu umas leves tonturas, tentou olhar à sua volta, mas não conseguia ver com muita nitidez as coisas.
— Devem ser os efeitos da anastesia. — pensou James. Passado pouco tempo já conseguia distinguir as coisas. Estava num quarto deitado numa cama bastante cómoda, tinha uma mesinha ao lado da cama, uma cómoda no canto, uma televisão à beira da janela e uma vista espantosa se espreitasse pela janela.
James sentia-se cansado e com uma leve dor no abdómen, por isso tentou dormir um bocado. Estava quase a adormecer, quando bateram à porta.
— Pode entrar — disse James.
Era Watson.
— Então, James? — perguntou Watson, alegremente — Como te estás a sentir? Bem?
— Acho que sim, — respondeu James, um bocado confuso — mas ainda me sinto um bocado tonto.
— Isso é natural! Precisas de descansar um bocado.
— Que horas são? — perguntou James, reparando que lhe tinham tirado o relógio.
— São 6:15. — respondeu Watson — O jantar é às 7:30, por isso aconselhava-te a dormir até lá.
Watson ia sair quando se lembrou de um recado:
— É verdade! Quase que me ia esquecendo de te dizer que a Christine telefonou a dizer que passava por cá às 8:30.
— Muito obrigado. — disse James — Já me sinto melhor só de saber isso.
Watson saiu e James adormeceu. Só acordou quando uma enfermeira lhe foi levar o jantar.
Mais tarde Watson voltou a entrar no quarto.
— Olá, doutor. — disse James, com um ar contente — Veio-me visitar?
— Já vi que estás com uma cara melhor do que a de há bocado. — disse Watson, sorrindo — Ainda bem. Sabes que estás com o melhor quarto do hospital? Este quarto é reservado para VIP’s.
— Não sabia que eu agora era um VIP. — respondeu James, piscando o olho a Watson — Viva o luxo!
— Já reparaste na casa de banho? — perguntou Watson, ironicamente — Isso sim, isso é que é um luxo. Quem me dera ter uma igual em casa. Imagina que até água quente tem.
— Cá para mim, — disse James, seriamente — vocês estão à espera da minha morte.
— Mas... — disse Watson, assustado — Mas de onde é que tiraste essa ideia?
— Para vocês estarem a tratar de mim tão seriamente e com tanto cuidado.... — respondeu ironicamente James — Até a um bacalhau cozido tive direito.
— Oh! — disse Watson, rindo-se — O que nós queremos é que tu te sintas bem e em plena forma. Precisamos de ti 100% operacional.
— Por falar nisso. — disse James, com um ar sério — Descobriram alguma coisa?
— Ainda não! Não precipites. Ainda é muito cedo.
— Então, muita boa noite para vocês. — disse Christine, que tinha entrado enquanto James e Watson estavam a falar — Como é que está o meu Jimmi, Watson?
— Melhor do que nunca. — respondeu Watson, sorrindo — Até já recuperou o seu sentido de humor.
— Ainda bem. — disse Christine, cumprimentando Watson — Cheguei a ficar preocupada com ele.
Christine aproximou-se de James e beijou-o na cara.
— Bem, — disse Watson, levantando-se — eu vou indo, porque tenho mais doentes à minha espera. Vou deixar-vos a sós.
Christine e James falaram até bastante tarde. Eram quase 0:30 quando Christine saiu do hospital.

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