agosto 31, 2004

Um Segundo

Dezembro, 1996.
O tempo passa devagar. Tão devagar que eu consigo ver todos os segundos que passam. Os primeiros são muito rápidos, meros fragmentos. Depois, eles começam a ser maiores, mais lentos, permitindo já uma pequena reflexão. Finalmente começam outra vez a correr, formando assim um ciclo.
Continuo a adorar este texto. Dou por mim, muitas vezes, a pensar nisto, nos segundos. Acho que se eu quisese fazia um livro gigantesto assim, só de pequenos fragmentos apanhados dos segundos que vão passando por mim. (Os Lusíadas em segundos! Ah! Ah! Ah!)


UM SEGUNDO

Um segundo...

Um segundo não é nada.
Um segundo é muita coisa.
Um segundo pode ser fatal.
Um segundo pode ser glorioso.

Um segundo...

Um segundo pode matar um homem.
Um segundo pode salvar um homem.
Um segundo pode mudar a vida de um homem, para sempre.
Um segundo pode destruir a vida de um homem, para sempre.

Um segundo...

Num segundo pode-se morrer.
Num segundo pode-se viver.
Num segundo passam 25 frames num vídeo.
Num segundo passam 24 fotografias num cinema.

Num segundo...

Num segundo começa uma guerra.
Num segundo acaba uma guerra.
Num segundo morrem milhares de pessoas.
Num segundo nascem milhares de pessoas.

Num segundo...

Num segundo os nossos olhos captam milhares de cores.
Num segundo os nossos ouvidos captam milhares de sons.
Num segundo os nossos olhos captam vários movimentos.
Num segundo o nosso mundo pode ser destruído.

Num segundo...

Num segundo pode explodir uma bomba.
Num segundo pode deflagrar um incêndio.
Num segundo marca-se um golo.
Num segundo sofre-se um golo.

Num segundo...

Num segundo acontecem milhares de coisas no mundo.
Num segundo o mar pode inundar uma cidade.
Num segundo pode-se ser feliz.
Num segundo pode-se ser infeliz.

Num segundo...

Um segundo pode enriquecer uma pessoa.
Um segundo pode empobrecer uma pessoa.
Um segundo muda muita coisa.
Um segundo, somente um segundo, é Todo-Poderoso.

Um segundo...

Um segundo, somente....

Somente um segundo....

Um segundo... O que é um segundo na vida de um homem?
Muita coisa. Um segundo é muita coisa.
Para nós um segundo não é nada, mas para o nosso cérebro um segundo é um minuto.
Para nós um dia são 24 horas, ou melhor 86400 segundos, pois, para o nosso cérebro são 72 horas, ou seja 259200 segundos.
O que um segundo pode fazer....
Num segundo passam-se milhares e milhares de coisas pelo mundo fora.
Ora se num segundo se passa isto tudo, imaginem o que se passa num dia, que tem 86400 segundos....
Por esta altura já devem ter passado mais de dois minutos, e pode parecer um bocado estranho pensar que já passaram 120 segundos, enquanto se lia este texto que fala de um só segundo, na vida de um homem. Mas já pensaram o que é que aconteceu nesses 120 segundos....

Um segundo....

Um segundo, somente...

Somente um segundo....

Sabem o que é pior?

É que a seguir a um segundo vem logo outro....


1996

agosto 30, 2004

A Batalha de Alcácer Kiwi

Ah! Ah! Ah!
Mais um dos meus devaneios. Este, tenho que admitir, é qualquer coisa de suberbo. O verdadeiro perigo de deixar o meu cérebero à solta, sem quaisquer preocupações, nem preconceitos, simplesmente deixar as ideias mais absurdas correrem. É um excelente exercício. Tenho pena de não explorar mais este estilo. E também tenho pena de ter perdido este sentido de humor na escrita...
Este texto teve, por sua vez, um episódio ainda mais surreal. Resolvi, na altura, apresentar este texto à minha professora de Português (Ok! O gajo tem a lata de fazer este texto e depois ainda tem o desplante de o apresentar à professora de Português??? Cortem-lhe a cabeça!!!!!), a qual o guardou "para lêr mais logo". Poucas horas depois soube que o texto tinha rodado pela sala dos professores com relativo sucesso, chegando a haver algumas gargalhadas mais estridentes. (Ok! Já percebi, a professora ainda era pior do que ele. Com professoras assim como é que queriam que ele fosse normal???)
Eu??? Na altura não gostei muito da brincadeira, principalmente, quando vieram os professores darem-me os parabéns pelo meu "sentido de humor". Ah! Ah! Ah!


A BATALHA ENTRE ALCÁCER DO SAL E ALCÁCER KIWI
Por
Laranjeira de Cachos

Aqui vai ser relatada a única e verdadeira história da batalha que houve entre Alcácer do Sal e Alcácer Kiwi, durante o reinado de D. Sebestalimão.
Por volta de 1579/1580 Portugal estava em crise, pois o sal, sua especialidade, estava a vender muito pouco, porque a povoação sofria, na maior parte, de hipertensão e o kiwi estava a vender cada vez mais, pois a povoação tinha descoberto que o kiwi era bom para a prisão de ventre e como a maior parte sofria, também, de problemas de evacuação a venda de kiwis aumentou significativamente, enquanto a venda de sal descia.
Ora, perante esta situação, o Rei D. Sebestalimão não estava nada satisfeito e reuniu os seus súbditos para trocaram as idas à Índia, onde iam buscar caril e açafrão, por uma guerra em Alcácer Kiwi, que era a grande produtora e exportadora de kiwi em África.
Em 1980 o Rei D. Sebestalimão, parte com sua tropas para Alcácer Kiwi. O que o rei não sabia era que infiltrado nas suas tropas se encontrava um espião de Alcácer Kiwi.
Chegados a Alcácer Kiwi tiveram uma recepção nada calorosa, pois os Mouros, já conhecedores do nosso ataque, começaram a bombardear-nos com kiwis.
Apanhados de surpresa, os portugueses, ou melhor, a povoação de Alcácer do Sal, reagiu ao ataque com bombardeamentos de sal e, é claro, a confusão gerou-se.
Os portugueses atiravam sal para os olhos dos mouros, estes, por sua vez, atiravam com kiwis à cabeça dos portugueses.
É claro que durante a batalha se levantou uma grande poeira de sal, e passado quase uma hora de combate já estavam todos aflitos dos olhos e já não viam nada à sua frente, senão uma leve névoa. Já ninguém sabia com quem estava a combater, pois a confusão era indescritível.
No final da batalha estavam todos doentes, mouros e portugueses, pois os kiwis deram-lhes a volta aos intestinos e sofriam todos de uma caganeira incrível. Soube-se que passaram semanas e semanas sempre a correrem para o W. C. de cinco em cinco minutos.
Triste final tiveram, pois a caganeira foi o golpe fatal que matou todos os intervenientes da batalha, mesmo o nosso querido Rei D. Sebestalimão, que sofreu, durante um mês, com a caganeira, antes de morrer.
Alguns anos depois chegou aos ouvidos dos portugueses uma versão totalmente falsa da batalha de Alcácer Kiwi.
Dizia-se que os mouros tinham matado sem dó, nem piedade todos os portugueses e que o nosso Rei tinha morrido numa manhã de nevoeiro. Ora bem, isso é completamente absurdo; primeiro não foram os mouros que mataram os portugueses, foram os kiwis, que, inclusivamente, mataram, também, os mouros; segundo, o nosso rei não morreu em combate numa manhã de nevoeiro, pois a batalha deu-se às três da tarde e durou, só, até às quatro. O nevoeiro, fictício, era o modo como os portugueses e os mouros ficaram a ver depois de terem levado com umas mil toneladas de sal nos olhos, pois como já disse o sal cegou os combatentes, que já só viam uma leve névoa à sua frente
Por isso, essa história do nevoeiro é completamente falsa, o nosso Rei, por muito triste que seja, morreu de uma caganeira terrível.
Assim aconteceu a triste e vergonhosa batalha entre Alcácer dos Sal e Alcácer Kiwi.

Laranjeira de Cachos
1996

agosto 26, 2004

Nowhere City (II)

NOWHERE CITY

(Grande plano de John numa Camioneta)

Camionista: Next stop: Nowhere City.

(Chegada da camioneta e a saída de John)
(Grande plano de uma seta indicando o caminho para Nowhere City)
(Caminhada de John até Nowhere City)
(Plano geral da Elm Street)
(Grande Plano do Nightmare Hotel)

John entra no Hotel e reserva um quarto.

Recepcionista: A room? Yes, I think that we have one! How long would you stay here?
John: I don’t know!

John sai do Hotel e começa uma longa caminhada por Nowhere City.
(Desenvolvimentos de vários acontecimentos estranhos)

Acontecimento 1
SUPER-HOMEM

(Plano geral de um telhado com um puto mascarado de Super-homem.)
(Grande plano do puto mascarado de Super-homem.)

Puto: Up, up and away!!!

O puto atira-se vindo a esborrachar-se ao pé de John que estava a passar na altura.
John olha, indeferente, sem mostrar qualquer emoção e continua a sua caminhada.

Acontecimento 2
Assassinos Natos

(Plano geral de dois homens discutindo)
John passeando repara na cena que se estava a passar no outro lado da rua e para.
Eram dois homens: um forte e alto, o outro de estatura média e magro.
Os dois discutem alto. O mais alto parece ser, também, o mais irritado.
De repente o mais alto saca uma arma e dispara sobre o mais magro, que cai moribundo no chão. O mais alto nota a presença de John e interpela-o:

Assassino: What are you looking at, motherfucker? Do you want to die, sucker?

John segue o seu caminho sem qualquer problema, como se nada se tivesse passado.

Acontecimento 3
THE LONE RANGER

(Plano inteiro de um puto em cima de um cavalo com um pau a fazer de espada.)
(Plano inteiro de outro puto em cima de outro cavalo, também com um pau-espada.)
Os putos estão frente a frente a uma distância de 40 metros entre si.
Os putos olham-se entre si, enquanto fazem os últimos preparativos e preparam os paus para lutarem.

Puto 1: Are you ready?
Puto 2: Yes, I’m ready.
Puto 1: So, Let’s go!
Puto 2:Aioh! Silver!

(Começa a musica do Lone Ranger)
Dito isto os putos desatam a galgar a alta velocidade empenhando os seus paus-espadas.
Cruzam-se a alta velocidade, lutando com as suas “espadas”.
Dão meia volta e voltam a galgar em direcção ao outro. Mas, desta vez, a coisa não corre tão bem e acabam por espetar os paus um no outro.
Assustados olham um para o outro e caem no chão mortos.
John, que estava a passar ali naquela altura, vê a cena final e continua a caminhar abanando a cabeça.

John: This is a stupid town! They are crazy! Gosh!

Acontecimento 4
SENTIDO OPOSTO

(Fim da tarde)
John, na sua longa caminhada, chega à rua principal da cidade, a Suicide Street.
Na estrada vem um camião TIR na faixa contrária a grande velocidade.
John apercebe-se da cena e pára para ver o que irá acontecer.
O camião começa a embater em todos os carros que lhe vão aparecendo pela frente, parando, depois, a 10 metros de John. Ao todo foram 2 Km percorridos em sentido oposto pelo camião.
O camionista sai do camião completamente ileso, deixando atrás de si um cenário de caos, morte e terror.
John afasta-se do local sorrindo. Sempre estava num cidade completamente maluca.

Acontecimento 5
VERY-LIGHT

(Anoitecer)
John aproxima-se de uma loja de videos e televisões.
Na montra está um grande ecrã que está a trasmitir o Nowhere Horses - Mississippi Lambs, um jogo de futebol, ou soccer como lhe chamam os americanos. Ao lado do ecrã estão duas gigantescas colunas para transmitirem o som para o lado de fora da montra.
John pára para assistir ao jogo.

Comentador (Voz-off): It is a country derby in soccer Nowhere Horses is a good team, but very rebellious. Mississippi Lambs are a strong team with a powerful attack. Let’s see the game.

O jogo continua até se ouvir um grande estrondo no estádio.

Comentador (Voz-off): Oh my God!!! What was that??? (Pausa) Oh no!!! A fan of Nowhere Horses killed a Mississippi Lamb’s fan, throwing a bomb.

A televisão mostra um adpto do Mississippi Lambs morto, com uma grande abertura no peito e a escorrer sangue.

Comentador (Voz-off): The game will stop. The Crazy Stadium is in panic all people are running away. This is crazy. (Pausa) I have now more information, the bomb who killed a Mississippi fan was a very-light....

John continua o seu caminho enquanto o comentador continua a tentar esplicar o que se passou.

(Noite. Plano Geral da Sócrates Avenue.)
(Grande plano de John a entrar no bar “Drinks on the house”.)

John entra. O bar é grande e espaçoso, parece ser um sitio agradável e não está muito cheio.
John senta-se e pede uma bebida. Passado algum tempo uma rapariga, bonita, esbelta e simpática, vai na sua direcção.


Sandra: Hi there!
John: Hello!
Sandra: Can I seat here?
John: Yeah!
Sandra: What are you doing here?
John: Well... I came here to drink something, to see people... normal people.
Sandra: This is a strange city, did you know that?
John: (Sorrindo) Yeah, I know that!
Sandra: So... What a man like you are doing here, in this stupid town? Don’t you have family or friends?
John: No... They all died!!...
Sandra: Oh!! I’m very sorry!
John: ...in a plain crash. I was the only survivor! My friends, my girlfriend, my parents, everybody... died. I lost everything.
Sandra: Then you move to Nowhere City.
John: No, I lived two years in Paquistan, where the plain crashed.
Sandra: But why did you came here, to Nowhere?
John: I came here because I’ve heard that Death lives here.
Sandra: That’s for shure! So you came to meet death, huh?
John: That’s right. I don’t have nothing, this is my only friend.

John tira do bolso um maço de cigarros Marlboro! Saca um cigarro e mostra-o à Sandra, acendendo-o logo de seguida.

John: What’s your name?
Sandra: Bullock, Sandra Bullock. And you? What’s your name?
John: I don’t know my name and I don’t know who I am, but you can call me John.
Sandra: John???
John: Yes, John is a good name.
Sandra: I like it!
John: Do you want to dance?
Sandra: Why not?

John e Sandra começam a dançar e, mais tarde, beijam-se.

(À porta do “Drinks on the house”)

John: So, where do you live?
Sandra: I live at Ravanelli Street.
John: I take you there! My hotel is on the Elm Street.
Sandra: In witch hotel are you staying?
John: In the Nightmare Hotel.
Sandra: That’s funny....

Continuam caminhando passando por várias ruas. Tudo parece agora mais calmo.
(Chegada a Ravanelli Street).

John: We are on Ravanelli Street now. Where is your house?
Sandra: I live up there, after that yellow building.

(À porta da casa de Sandra).
Sandra: This is my house! Do you like it?
John: That’s a nice house... Can I come here tomorrow?
Sandra: Yes, of course! Whenever you want.
John: At 3 o’clock, that’s OK for you?
Sandra: Fine. I’m waiting for you!
John: OK! See you tomorrow.

John e Sandra beijam-se. Despedem-se. Sandra entra em casa e John segue o seu caminho para o hotel.
Já não era aquele John que tinha chegado à cidade. Era um John diferente, já não procurava a morte, tinha-se apaixonado, já tinha uma razão para viver.

John (Voz-off): I came here to meet Death, now I found life, love. I have, now, someone in my life, a reason to live for.

(Começa a musica The End dos Doors).
John acende um cigarro e continua caminhando até chegar a um cruzamento.
( Plano fixo dos pés de John a entrarem no cruzamento).
Ouve-se uma travagem brusca e um forte estrondo.
O cigarro aparece a rolar e apaga-se numa poça de água.


This is the end, beautiful friend, / this is the end, my only friend, / the end of our elaborated plan, / the end of everything that stands....I’ll never look into your eyes… again”.

1996

Nowhere City (I)

Nowhere City...
Finalmente a maior alegoria de todos os meus textos.
Finalmente a afirmação de um estilo.
Só por causa disso, acho que Nowhere City merece um prólogo.

Não me tinha apercebido de que o "Nowhere City" tinha aparecido tão cedo nos meus textos. Tinha ideia que tinha vindo mais tarde. Afinal de contas é só o meu 5º texto.
Já se passaram 8 anos desda a criação de "Nowhere City" e, visto agora, parece-me um pouco desactualizado, mas mesmo assim, ainda é a grande referência dos meus textos.
É em "Nowhere City" que o meu péssimismo negativista se afirma, criou-se uma estrutura "a cidade onde vive a Morte", a partir daqui tudo era possível, eu era rei e senhor do destino, a Morte funcionava a meu mando. Ah! Ah! Ah! Podia ser vitima ou heroi era só a minha mente querer.
É claro que só muito mais tarde (principalmente ao escrever "Morte e Salvação") é que reparei na influência deste texto nas minhas ideias e no meu modo de pensar. Até porque este texto está escrito ou pensado como um argumento. Foi uma tentativa de escrever argumentos, mas ficou uma coisa estranha porque a acção é escrita em Português, mas os diálogos são em Inglês, por isso, via sempre este texto como um filme, tal como ele tinha sido pensado, um delírio que tive naquela altura e não me tinha apercebido da grande alegoria que estava escondida por detrás de todas aquelas ideias...

É curioso reparar no humor subtil (sem ser o sádico!) que preenche todo este texto. É quase impossível eu voltar a escrever qualquer coisa com este tipo de humor. Todo o lugar comum que este texto feito de lugares comuns é, ajuda a dissimular e "esconder" inúmeras referências e gags.
Para começar John fica hospedado no Hotel Nightmare na Elm Street, ou seja, Nightmare on Elm Street. Na série de acontecimentos que se segue há referência de filmes, séries, histórias e, mesmo de notícias "que chocaram o mundo (Ah! Ah! Ah!)". Depois temos a Socrates Avenue, a Ravanelli street (para quem não se lembra, Ravanelli foi um grande jogador de futebol italiano), o bar que se chama "Drinks on the House" (As bebidas são à borla), a rapariga que é a Sandra Bullock (Ai, ai....) e, claro, o grande fantasma dos Doors que paira por todo o texto.

Apesar de já estar um pouco datado e de ser um lugar comum (se bem que a finalidade é mesmo essa), quanto mais me afasto deste texto, mais gosto dele. Já pensei em o adaptar para fazer uma curta-metragem, mas acaba por ser um texto demasiado Hugo Valter Moutinho, para ser eu próprio a adaptá-lo. Tem muito de mim ali dentro e tenho medo de me expôr a mim próprio na curta-metragem. Já o fiz uma vez, não sei se quero repetir a proeza...

2004

agosto 17, 2004

I DON’T KNOW MY NAME

A primeira reflexão.
A primeira tentativa de usar a escrita como forma de fuga, de exprimir os meus pensamentos, as minhas frustações e fúrias.
Começa a aparecer o péssimismo negativista que vinha a caracterizar o meu estilo e a minha meneira de pensar, tal como aparece pela primeira vez a palavra "Morte".
Apesar de ser um texto dos finais de 1996, continuo a pensar muito assim, o que significa que pouca coisa mudou para mim neste sentido.


I DON’T KNOW MY NAME
AND I DON’T KNOW WHO I AM EITHER

Não sei o que se passou comigo no ano passado. Sei que andei perdido, cheguei a estar desesperado, sem saber o que fazer.
O que ando aqui a fazer?
Porque é que tenho de viver se vou morrer?
Estas foram, talvez, as perguntas que me fizeram perder de mim mesmo. Se calhar perdi-me à procura das respostas dessas perguntas. Respostas que nunca cheguei a encontrar, talvez porque este mundo não tenha respostas para nada.
Procurei, também, encontrar uma fuga para estas questões, mas só serviu para me perder ainda mais. Cheguei a um ponto que já não sabia o meu nome, nem quem eu era. Precisava saber o que andava cá a fazer, eu não pertencia a este mundo ingrato, injusto e estranho.
Andei perdido e desligado de tudo que se passava à minha volta, tornei-me um verdadeiro zombie. Não sabia o que fazia, nem porque fazia. Cheguei a perguntar à morte porque é que me deixou naquele suplício e ainda não me tinha levado daqui embora. Queria morrer, pois este mundo não foi feito para mim.
Até que cheguei a uma conclusão: Sou um ser vivo!!! Eu posso pensar, andar, falar, etc. Terá sido nessa altura que acordei para o mundo, que me encontrei. Mas não estava contente comigo mesmo, alguma coisa estava errada, precisava de mudar.
Decidi mudar o meu visual, ser diferente dos outros, ser eu próprio, mostrar aos outros que estou vivo e que não sou nenhum burro, se calhar até mais espertos do que eles.
Furei a orelha, a esquerda para evitar qualquer problemas de tendências sexuais, mudei a minha atitude, apanhei o cabelo; precisava de me mudar, ser diferente do que era.
Posso ainda não saber quem sou, nem o meu nome, mas sei que sou diferente dos outros, sou único, não há ninguém igual a mim, nem nunca há-de haver.
Sou uma pessoa que não receia a morte, mas já não imploro que ela me venha buscar, quando morrer morri e já nada mais há a fazer. Agora só quero viver a minha vida sossegado e dedicar-me aquilo que gosto mais, fazer aquilo que sempre sonhei fazer.
Embora não haja paz neste mundo, que não é o meu, eu vivo em paz e não quero que ninguém me tire essa paz, essa solidão, essa tristeza, porque isso tudo sou eu, e se me tiram alguma dessas coisas, estão a tirar um pedaço de mim, isto é, a antecipar a minha morte.
Sei que tenho gostos esquisitos e que me acham maluco, e o que é que eu sou senão um maluco? Às vezes os malucos são mais inteligentes que as pessoas sadias. Eu sou o que sou e ninguém pode mudar isso.
Ainda não sei o que ando a fazer aqui, nem o que tenho de fazer aqui, mas sei que já me encontrei e já me dou por satisfeito.
Posso não ser uma pessoa feliz, mas também não quero, porque a felicidade só traz tristeza.
Não me resta mais nada, senão curtir a vida à espera que a Morte me faça a sua visita fatal.

I don’t know my name and I don’t know who I am either.
1996

agosto 16, 2004

Sombra

Na sequência de "Eco" nasce uma outra vertente da mesma metáfora.
É um bocado o explorar da mesma ideia, mas desta vez de um modo introspectivo... um ano mais tarde.


A SOMBRA
Eu andei sempre sozinho no mundo. Nunca tive muitos amigos e os que tive foram curtas amizades. Raramente falava com alguém e normalmente só falava em último recurso. Para comprar comida, por exemplo.
Mas, à uns tempos atrás reparei que alguma coisa me andava a seguir. Perseguia-me por todo o lado, em qualquer lado que ia sentia a sua presença. Mas às vezes de noite desaparecia, o que me deixava curioso.
Então aí reparei que afinal não andava sozinho no mundo e que tinha alguém que me seguia sempre. Alguém que se torna forte em dias de sol, mas também fraco à noite.
Desde então a minha vida mudou radicalmente e, hoje, já tenho alguns amigos. Mas o meu melhor amigo sempre foi, e sempre será, aquele que, embora não possa falar, sempre me acompanhou desde o principio e que me acordou para a vida.
Como ele não pode falar, sinto-me na obrigação de lhe dar um nome. Acho que lhe vou chamar.... — SOMBRA.
1996

Eco

Um dos meus primeiros ensaios na escrita.
Ah! Ah! Ah! Que naif!
De qualquer maneira é interessante reparar que a metáfora aparace desde os meus primeiros textos.


ECO

Eram 3:30 da manhã, ela ia sozinha pela rua. Antigamente não era perigoso, mas nos dias de hoje é preciso tomar todas as precauções.
Ela ia preocupada, receando sempre que alguém viesse por trás e a atacasse.
Subitamente ouviu passos por trás dela, virou-se e.... Nada, absolutamente ninguém. Continuou e os passos voltaram. Voltou-se novamente. Ninguém. Começou a correr e os passos acelararam. Desesperada parou e gritou: “Isto é uma brincadeira de mau gosto?”
Como resposta obteve só um eco.
Suspira! Afinal aquela perseguição e aqueles passos eram só um eco. Tinha-se preocupado à toa.
Prosseguiu o seu caminho calmamente.
Passado um bocado um grito estridente rompe o silêncio, um grito de dor, angústia, medo, susto.

Nada mais se soube sobre ela.
1995

agosto 15, 2004

Crime Ensanguentado (II)

Tal como todos os filmes de classe B, tinha de haver uma sequela (note-se que na altura as trilogias ainda não estavam na moda...), se possivel pior ou na continuação da anterior, mas nunca melhor. Ah! Claro! Tinha de haver mais litros de sangue, se não o Produtor não dava o dinheiro....


CRIME ENSANGUENTADO II
A Vingança

Dia: 18 de Novembro.
Depois do que aconteceu às 8:30 e de terem retirado o resto do corpo da Joana do corredor tudo parecia calmo e resolvido mas....
10:20 - Estávamos na aula de Filosofia tocou e fomos todos para o bufete. Estava cheio de gente até parecia que estavam a dar bolos de graça.
Espera. Estavam mesmo a dar bolos de graça!! Eu corri para o meio da confusão e depois fui uma luta terrível no meio de gritos, murros e pontapés. Azar do caraças, quando cheguei só lá estava um tabuleiro cheio de migalhas. Desolado sai do meio da confusão e fui ter com a Susana.
Íamos a sair do bufete quando demos de caras com a Inês. Esta empurrou a Susana para a parede e não é que a vi a sacar uma carabina. A Susana quando viu este "objecto" fugiu. A Inês foi logo atrás dela, se eu não soubesse que era a Inês teria dito que era o Schwarznegger, e consegue apanha-la. Susana desesperada tentou fugir novamente e como não conseguiu pegou num latão do lixo e atirou-o contra a cabeça da Inês.
Esta caiu no chão redondamente. Susana foi a correr para o gabinete da Médica Escolar. Lá falou com a médica e pediu-lhe um instrumento para curar uma pessoa que tivesse partido uma perna e passado uns momentos saiu do gabinete com uma moto-serra. Foi ter, então, com a Inês que continuava K.O. e tentou ligar a moto-serra, mas não conseguiu. Tentou, com sucesso, novamente e Susana, sem dó nem piedade cortou a Inês em quatro pedaços.
Acabado o serviço estava outra vez a escola toda à volta da Susana.

— Bravo!
— Parabéns!
— Que bela fotografia que isto dava.
— Até parecia real.

Susana conseguiu escapar viva desta, mas tinha um grave ferimento no braço. Eu ainda tentei tapá-lo para a médica escolar não o ver, mas já era tarde, pois já vinha a médica com uma poderosa faca "guinso" de aço inoxidável endurecida a lazer.
Susana fugiu e a médica foi atrás dela, mas eu passei-lhe uma rasteira fazendo-a cair. Por azar caiu mesmo por cima do facalhão, que lhe trespassou o coração.
Os professores e alunos ficaram tão contentes com a morte da médica que durante o dia todo não houve mais aulas.

Felizmente acabou tudo em sangue. Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Não percam a próxima história deste vosso anfitrião...
1994

Crime Ensanguentado (I)

É estranho para mim deparar-me com esta pequena relíquia. É um verdadeiro exemplo dos meus devaneios sanguíneos. Escrevi a primeira parte numa manhã e a segunda parte na tarde seguinte, num dia em que duas colegas minhas se tinham chateado. Foi o mote de partida.
Embora já me pareça um pouco infantil, acho que não lhe alterava uma única vírgula, porque realmente ainda continuo a ver as coisas assim. Nota-se aqui perfeitamente a minha grande influencia dos filmes gore e dos grandes clássicos de terror. Obrigado Fantasporto!




CRIME ENSANGUENTADO


Estávamos a meio do mês de Novembro, era dia 18.
8:15 - Eu, como de costume, fui-me encontrar com a Susana.
A caminho da escola ela contou-me que estava zangada com a Joana, pois ela não a tinha convidado para os anos dela.
8:30 - Estávamos sentados à espera da "stôra" e então chega a Joana. A Susana levantou-se e foi ter com ela.
O principio da conversa não pude ouvir, mas quando a conversa ia a meio ouço a Joana a dizer:

— Ah! Sua cabra. Hipócrita és tu, minha puta.

E pega rapidamente numa picareta que estava dentro de um armário e vai em direcção à Susana, mas esta rápida como uma gazela consegue fugir e pega num machado que estava no mesmo armário. (Peço desculpa por esta interrupção mas é preciso salientar que aquele armário dizia: "Material da Médica Escolar"). Nesta altura Joana tenta atacar novamente, mas Susana, num rápido movimento consegue cortar-lhe a cabeça. Joana caiu inerte no chão jorrando sangue pelo pescoço. Estava morta.
Susana exausta vira-se e estava a escola toda a olhar para ela a aplaudir.

— Bravo!
— Bis!
— E eu que me esqueci da camcorder.

A "stôra" chegou entretanto e a aula começou.
A aula correu maravilhosamente, excepto para a Inês que jurou vingança. Mas isso é outra história.

Não percam o "Crime ensanguentado II"


1994

Prólogo (II)

Sobre a Morte

Curiosamente a Morte é uma presença muito constante nos meus textos. Houve alturas em que me preocupei sériamente com isso. Depois perguntei-me porquê, porque raio eu sismava com uma personagem tão sombria. Talvez influências do Sétimo Selo de Igmar Bergman, muito provavelmente, mas após grandes investigações introspectivas e algumas viagens ao baú das memórias (e com isto tudo alguns anos de amadurecimento) descobri que todos nós precisamos de acreditar numa salvação, algo que nos vai tirar da miséria do mundo em que vivemos. Há quem acredite no céu, na luz divina, no paraíso, em Deus... eu acredito na Morte, ela é o meu deus.
Descobri, depois, um facto muito curioso, a metáfora de morrer, ou seja, reparo que a procura da Morte nos meus textos está associada a vários factores, morrer significa: paz, silêncio, descanço e, acima de tudo, sossego. Isto pelo lado positivo, porque pelo lado negativo significa: solidão, desespero, abandono e claustrofobia.
A partir do momento em que consegui descodificar o significado da Morte nos meus textos, consegui respirar e descançar melhor mas, infelizmente, também deixei de escrever com tanta regularidade....

Prólogo (I)

Pois é, vai começar a saga (ou a chaga, depende do ponto de vista...). :)

É estranho para mim passado tanto tempo voltar a pegar nos meus textos, olhá-los de novo e perguntar: "Fui mesmo eu que escrevi isto?... Nada mau!" ou então: "Como é que eu fui capaz de fazer esta merda??...." Mas, ou mesmo tempo, reparar que houve coisas que não mudaram (continuo a pensar exctamente da mesma maneira), coisas que amadureceram (e o texto "A Corda no Pescoço" é um excelente exemplo disso) e coisas que agora me parecem completamente absurdas, básicas e talvez até um pouco infantis... Apesar de tudo, resolvi publicá-los na mesma. Bons ou maus, estúpidos ou não, não deixam de ser meus, não deixam de ser criados por estas mesmas mãos que escrevem estas linhas, por isso merecem ser apresentados aqui, porque no fundo é uma espécie de viagem ao passado, misturada com muita introspecção com uma pitada de presente e utopia, numa vã tentativa de abrir portas da vida, do futuro e claro, como não podia deixar de ser, da Morte....