agosto 17, 2004

I DON’T KNOW MY NAME

A primeira reflexão.
A primeira tentativa de usar a escrita como forma de fuga, de exprimir os meus pensamentos, as minhas frustações e fúrias.
Começa a aparecer o péssimismo negativista que vinha a caracterizar o meu estilo e a minha meneira de pensar, tal como aparece pela primeira vez a palavra "Morte".
Apesar de ser um texto dos finais de 1996, continuo a pensar muito assim, o que significa que pouca coisa mudou para mim neste sentido.


I DON’T KNOW MY NAME
AND I DON’T KNOW WHO I AM EITHER

Não sei o que se passou comigo no ano passado. Sei que andei perdido, cheguei a estar desesperado, sem saber o que fazer.
O que ando aqui a fazer?
Porque é que tenho de viver se vou morrer?
Estas foram, talvez, as perguntas que me fizeram perder de mim mesmo. Se calhar perdi-me à procura das respostas dessas perguntas. Respostas que nunca cheguei a encontrar, talvez porque este mundo não tenha respostas para nada.
Procurei, também, encontrar uma fuga para estas questões, mas só serviu para me perder ainda mais. Cheguei a um ponto que já não sabia o meu nome, nem quem eu era. Precisava saber o que andava cá a fazer, eu não pertencia a este mundo ingrato, injusto e estranho.
Andei perdido e desligado de tudo que se passava à minha volta, tornei-me um verdadeiro zombie. Não sabia o que fazia, nem porque fazia. Cheguei a perguntar à morte porque é que me deixou naquele suplício e ainda não me tinha levado daqui embora. Queria morrer, pois este mundo não foi feito para mim.
Até que cheguei a uma conclusão: Sou um ser vivo!!! Eu posso pensar, andar, falar, etc. Terá sido nessa altura que acordei para o mundo, que me encontrei. Mas não estava contente comigo mesmo, alguma coisa estava errada, precisava de mudar.
Decidi mudar o meu visual, ser diferente dos outros, ser eu próprio, mostrar aos outros que estou vivo e que não sou nenhum burro, se calhar até mais espertos do que eles.
Furei a orelha, a esquerda para evitar qualquer problemas de tendências sexuais, mudei a minha atitude, apanhei o cabelo; precisava de me mudar, ser diferente do que era.
Posso ainda não saber quem sou, nem o meu nome, mas sei que sou diferente dos outros, sou único, não há ninguém igual a mim, nem nunca há-de haver.
Sou uma pessoa que não receia a morte, mas já não imploro que ela me venha buscar, quando morrer morri e já nada mais há a fazer. Agora só quero viver a minha vida sossegado e dedicar-me aquilo que gosto mais, fazer aquilo que sempre sonhei fazer.
Embora não haja paz neste mundo, que não é o meu, eu vivo em paz e não quero que ninguém me tire essa paz, essa solidão, essa tristeza, porque isso tudo sou eu, e se me tiram alguma dessas coisas, estão a tirar um pedaço de mim, isto é, a antecipar a minha morte.
Sei que tenho gostos esquisitos e que me acham maluco, e o que é que eu sou senão um maluco? Às vezes os malucos são mais inteligentes que as pessoas sadias. Eu sou o que sou e ninguém pode mudar isso.
Ainda não sei o que ando a fazer aqui, nem o que tenho de fazer aqui, mas sei que já me encontrei e já me dou por satisfeito.
Posso não ser uma pessoa feliz, mas também não quero, porque a felicidade só traz tristeza.
Não me resta mais nada, senão curtir a vida à espera que a Morte me faça a sua visita fatal.

I don’t know my name and I don’t know who I am either.
1996

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