abril 23, 2009

Casamento a Prazo

Ele era casado com o seu trabalho. Era uma opção de vida que tinha tomado à alguns anos. Dedicara-se de corpo e alma a essa relação, abdicando de outras distracções mundanas.
Agora, sentia que o trabalho lhe estava a pedir o divórcio e ele não percebia muito bem o porquê de tal separação, deparando-se agora com a solidão.

abril 14, 2009

A Publicidade

Carne

“Baixamos o Bife de Boi!”, dizia um letreiro com letras garrafais à porta do talho.
À medida que me fui aproximando vi umas letras pequenas que se encontravam por baixo do letreiro: “Por favor, visite a nossa cave!”
Senti-me burlado!

abril 04, 2009

O Hóspede

1ª Parte


2ª Parte


Corria o ano de 2002 e estava a chegar o Setembro. Um jovem sonhador sonhava em fazer uma curta metragem. “Uma curta metragem de terror, de terror antigo como nos tempos do Vincent Price ou do Bela Logosi teria piada” pensava ele enquanto folheava um conto de Bram Stoker “O Hóspede de Drácula”. Drácula! A personagem que sempre o acompanhou na juventude teria de ser o motivo principal para avançar para uma curta, aliás era o assunto que melhor dominava, quer literário, quer cinematográfico… Esse jovem sonhador era eu, claro.
Após ler compulsivamente o conto (e criar uma imagem muito própria do mesmo) fui, com a exaltação de um miúdo que descobre um doce novo, expor a minha ideia a um “amigo fotógrafo” que, após ler o conto e perceber a minha visão, aceitou prontamente o desafio da direcção de fotografia (e a partir daí continuou a trabalhar comigo, o suicida! Coitado….).
O passo seguinte foi falar com malta amiga (alguns actores, outros palhaços/mimos e outros figurantes que acabaram por “tropeçar no tripé da câmara”) através da Acaro e da Apiarte.
E a curta começou a tornar-se numa pequena homenagem às pessoas envolvidas no projecto e, com tudo pronto, em meados de Setembro já estávamos no meio do bosque sem dinheiro e com a câmara mais foleira que nos veio parar às mãos, mas em três dias e meio resolvemos o assunto. Tudo nas calmas, sem stress e em espírito de amizade com alguma borga pelo meio.
O que eu não estava à espera é que essa passividade das filmagens passasse para a curta e que esta acabasse por se transformar numa viagem intimista e introspectiva, na qual acabo por revelar demasiado sobre mim próprio, sobre a minha maneira de ver as coisas e, de certa maneira, um pequeno piscar de olhos a algumas referências do cinema fantástico que sempre me perseguiram.
Em princípios de 2003, em plena fase de montagem, começa a jornada da sonoplastia, com algumas noitadas, para conseguir chegar ao som pretendido para cada cena e em meados de 2003 podemos finalmente declarar o trabalho por acabado.
A verdade é que sem a ajuda do Rui, do Tó, do Sérgio, da Patrícia, do Osga (e as nossas noitadas...) e do Mário, com a paciência e a mesma vontade de trabalhar por amor à camisola, a curta não teria corrido tão bem...

”O Hóspede” acabou por ser um trabalho que já odiei e que já adorei e depois voltei a odiar, etc… mas passados 6 anos vejo-o agora com alguma saudade. Vejo alguns erros naturais de um primeiro trabalho e fruto da minha inocência na matéria. Há uma ou outra cena que abomino completamente e farto-me de bater com a cabeça na parede sempre que as vejo, perguntando porque raio é que não repeti aquela cena mais umas vezes, como é que eu não reparei na altura que aquilo estava a sair mal?? As pressas do tempo, o sol que vai fugindo, aquela “hora mágica” que dura só alguns minutos e o facto de eu me ter recusado a fazer um “reshotting” das cenas são os culpados disso, mas no fundo acho que é esse lado “cru” que dá alguma naturalidade à curta, que a torna pelo menos honesta.
É estranho pensar que a curta que foi feita sem qualquer tipo de meios (com muita ambição, é certo mas, sem qualquer tipo de pretenções) é provavelmente o meu melhor trabalho até hoje… talvez por todos estes factores.