dezembro 28, 2007

Anjo Mortal

Mataste-me naquela festa, onde te encontrei passados uns anos. Naquele momento em que os meus olhos pousaram em ti e sorri, tu retribuíste-me um sorriso sincero, mas os teus olhos traziam amargura. Foi nesse exacto momento que morri.
Recordava-me de ti com um sorriso aberto, os teus olhos vibravam ao sabor dos teus cabelos e eras eléctrica como uma formiguinha que tinha encontrado um doce.
Via-te como um anjo alegre com quem tinha partilhado alguns bons momentos, que retive saudosamente no meu baú da memória. Mas naquela noite tudo mudou.
Mataste-me sem saberes, espetaste-me uma faca no coração e entristeceste-me as entranhas. Nesse momento as imagens idílicas que se encontravam no baú entraram em combustão e carbonizaram-se. A cor do teu cabelo, o teu cheiro, o teu rosto e todos os teus sorrisos, deram lugar a uma imagem triste e melancólica.
Morri naquele momento exacto em que me apercebi que o tempo tinha passado por nós, cobrindo a nossa curta e breve relação, que a vida tinha sido tão dura para ti como foi para mim, que tu tinhas amadurecido (quiçá envelhecido) e já não eras o anjo alegre e inocente que jazia no meu baú das memórias. O anjo do baú deu lugar a um ser humano, as imagens alegres transfiguraram-se em dias de tempestade, da felicidade para a agonia, a esperança virou-se para o desespero, o sonho diluiu-se com tudo o resto.
Morri exactamente por isso. Ao perceber que já não poderíamos voltar a repetir o passado, que já não éramos iguais, que a vida nos separou cruelmente.
E tu mataste-me ao mostrar que afinal não eras um anjo, mas um simples ser humano, mortal, como todos nós.

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