março 27, 2006

Aqui não há inocentes!

Esta reflexão foi publicada no blog do Clube dos Pinguins, porque achei pertinente, na altura, desabafar algumas ideias e reflectir sobre isso.
Acabei por gostar do resultado final e por isso publico-o aqui também, até porque é muito raro eu escrever criticas de cinema, apesar de ser uma das minhas grandes paixões.

Há já muito tempo que não via um filme tão bom como o Crash e devo admitir que dei pulos de alegria quando soube que este tinha ganho o Óscar® de melhor filme. Raros são os filmes que me deixam a pensar e ficam a remoer durante bastante tempo.
Crash é um filme intenso com uma enorme carga dramática, mas sem ser demasiado lamechas ou profundamente intelectual. Podemos dizer que a carga dramática está no ponto. Conta com o apoio de um excelente elenco (Sandra Bullock forever!!) que por sua vez é superado por um fantástico e suberbo Matt Dillon, que, permitam-me a expressão, "Puta que o Pariu!!!" (Não é que o Philip Seymour Hoffman não merecesse o Óscar®, muito pelo contrário! Só que Matt Dillon não lhe fica atrás...)
Crash trata de um tema tão emergente e perigoso como a xenofobia numa cidade sob tensão que é Los Angeles (Não podemos esquecer o caso de Rodney King em 1992).
Com o passar do filme começei a ficar com a sensação de que a xenofobia só existe porque nós a permitimos. Com os nossos medos, as nossas fobias, os estéreotipos e os falsos preconceitos que nos são incutidos deste muito novos. Temos tendencia logo à partir de tirar juizos de valor das pessoas, muitas vezes nem sempre são correctos e se olhamos para uma pessoa e a julgamos uma marginal e essa pessoa está inocente, então o culpado somos nós! Assim seremos nós os xenófobos e a pior xenofobia é a inconsciente (e a inconsequente...)! Sim, é verdade! Todos nós somos xenófobos, conscientes ou não... Estamos sempre a pensar no nosso prórpio umbigo, sentados no nosso sofá, a ver a nossa televisão, na nossa casa que sempre que encontramos alguém que não tenha essa sorte a descriminamos, desprezamos ou, ainda pior, gozamos com a situação dela, sem pensarmos nos sentimentos, nos problemas e na dor que essa pessoa pode estar a sentir. Depois quando essa pessoa se farta e vira-se para nós, leva tudo à frente, culpados e inocentes, nessa altura nós chamos-lhe xenófoba ou doida ou seja lá o que for... Mas quem começou fomos nós! (Volto a lembrar o caso de Rodney King...)
Crash passa-se em Los Angeles, mas podia passar-se em qualquer outro lugar. Os medos e os preconceitos lá latentes estão em qualquer parte do mundo e é bom que, de vez emquando, apareçam filmes assim para nos chamar de volta para a realidade e para, de vez em quando, olharmos para nós próprios e perceber que neste mundo todos somos culpados. Se não é pelo que fazemos, é pelo que não fazemos.