março 29, 2009

O Defeito Humano

A “Guerra dos Clones” que se está a passar agora com o Markl, fez-me pensar um pouco.
O Twitter é “uma nova forma de comunicação” (ou se preferirem a versão do vídeo: um ponto de encontro de falhados que não têm amigos…) que está a criar verdadeiros fanatismos, quer se seja a favor ou contra, porque o Twitter é um sistema que se gosta ou se odeia, poucos são os que estão na gama intermédia.

Os casos mais curiosos são:
1- os que adoram o sistema e não querem que se torne “popularucho”, como se pode ver aqui: link, (algo que será inevitável como sabemos dos casos anteriores de sistemas de comunicação, como o Hi5 ou o Facebook) e daí crescerão as confusões e os desentendimentos levando a um “twittercídio” de uma das partes. (A vida é um ciclo e estes sistemas também… a seguir ao Twitter virá outra coisa qualquer e mais uma volta, mais uma viagem.)
2- um grupo de fãs que adoram a “Fail Whale”, imagem de erro do Twitter quando este está cheio. Cujo merchandising vai desde camisolas até tatuagens. (A curiosa história desta imagem pode-se ver aqui: link)

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3- E depois, claro está, os sistemas de comunicação têm a característica de revelar o “lado oculto” das pessoas, para o bem e para o mal (enquanto o Hi5 revela o lado lamechas das pessoas, enviando corações, ursos dançantes, beijos de todas formas e feitios, etc. e etc. não se viu livre de alguns clones, sendo a maior parte vírus…, já o Orkut, por exemplo, teve no Brasil pragas de intrometidos (stalkers) que mexeram com muito boa gente). É assim inevitável o aparecimento de um grupo de “lontras” que não tem nada que fazer e começa a criar contas falsas (ou clones) e divertem-se a ridicularizar e insultar as outras pessoas. É uma espécie de spam mas muito mais grave, pois interferem com valores morais… (Infelizmente a selva “internética” é dada a este abusos um pouco por todo o lado devido à sua aparente anarquia. Felizmente à sempre um botão “block user” à mão, embora às vezes um pouco tarde de mais, enfim…).

Mas os meios e sistemas de comunicação podem ser muito mais do que isto: podem (e deveriam) ser uma excelente fonte de informação, de divulgação, podem… se as pessoas assim o quiserem. É como dizia o HAL em 1968 no “2001 Odisseia no Espaço” de Stanley Kubrick: “Sou incapaz de cometer um erro. De certeza que o problema é falha humana.”, antes de começar a matar a tripulação devido a um "bug" interno.
Vendo bem o Arthur C. Clark estava 40 anos avançado no tempo.

março 28, 2009

Ultracongelado

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Se vais arrotar postas de pescada
Certifica-te que a pescada é fresca!

março 27, 2009

Não sorrias mais

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Não sorrias mais. O teu sorriso perturba-me.
Mesmo na mais profunda obscuridade ele é capaz de iluminar um salão de baile e isso deixa-me de rastos.
Não sorrias mais. O teu sorriso reduz-me… a nada!

E afasta de mim esses olhos. Põe-me as pernas a tremer.
Fico mole. O coração começa a bater mais forte e a bombear sangue desnecessariamente a um corpo que está impotente perante o teu sorriso.
Fecha os olhos e não sorrias mais. Por favor!

Mas à noite, se te apetecer, abre os olhos e sorri gentilmente
para assim me deitar no teu sorriso e adormecer sobre o teu olhar.


(P.S. – A Jessica Alba veio aqui parar por mero acaso. Juro!)

março 20, 2009

A menina de cabelo dourado

Conto infantil que se deve esconder de adultos gulosos

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Todos os dias antes de ir para a escola a menina de cabelo dourado abria o armário para se olhar ao espelho e ver se não se tinha esquecido de nada. Era um mero passatempo, fazia-o só por fazer, não era por vaidade. Até que um dia, para seu grande espanto, ao abrir o armário reparou que do outro lado não se encontrava um espelho, mas sim um céu azul com nuvens.
Ao princípio não quis acreditar e esfregou os olhos com alguma força. Olhou novamente e viu que o céu azul ainda permanecia do outro lado do armário. Fechou e abriu a porta do armário, olhando à volta para se certificar de que ainda se encontrava no seu quarto. Nada de novo, nada de espelho. Dentro do armário continuava o mesmo céu azul. Meteu a cabeça dentro do armário, olhou atentamente para a paisagem e com grande surpresa reparou que o céu não tinha chão.
As nuvens iam passando lentamente e quando finalmente se aproximaram do armário a menina pode ver que eram feitas de algodão doce. A curiosidade invadiu-lhe o corpo e, ganhando coragem, saltou para a nuvem mais próxima. Provou um pouco da nuvem para ter a certeza de que eram feitas de algodão doce e alegremente confirmou a sua suspeita. “E é dos bons!” disse para si mesma.
Após se deliciar saltou para a nuvem seguinte, apesar de doces as nuvens não eram muito cómodas para se ficar muito tempo parada pois o açúcar ia-se derretendo em contacto com a sua fina pele. A melhor maneira de investigar o local era ir saltando de nuvem em nuvem. “Sempre é menos peganhento”, pensava.
Quando chegou à décima quarta nuvem, olhou para trás e viu que o seu armário era quase um ponto no horizonte. À sua volta só se encontravam nuvens e em baixo avistava-se umas pequenas formas que deveriam ser umas montanhas. “Devem ser altíssimas mas daqui parecem pequenas tartarugas”.
Subitamente ouviu ao longe um pequeno ruído. Não se apercebeu logo de onde vinha o som e teve de se concentrar com força para ouvir com atenção. Era uma espécie de miar que vinha do seu lado direito e desatou a saltitar rapidamente nessa direcção. Algumas nuvens depois viu, para seu espanto, um gato feito de chocolate preto que parecia estar preso numa nuvem. O gato mal a viu calou-se fitando-a muito atentamente e num miar suave apontou-lhe para a pata traseira que estava submersa na nuvem. “Pobre coitado”, pensou ela enquanto se aproximava do gato para examinar cuidadosamente a pata. “A sua pata esta-se a derreter com o açúcar da nuvem”,disse “acho que o consigo ajudar” e com muito jeitinho desenterrou a pata da nuvem. “Já está meia derretida e mole. Isto deve doer, 'tadinho.” pensava enquanto tentava modelar novamente a pata do gato à semelhança das outras. No final deu-se por satisfeita com o resultado pois quase nem se notava a diferença.
O gato deitou-se no colo da menina e ronronou em sinal de agradecimento mas, de repente levantou-se, olhou em volta e saltitou rapidamente de nuvem em nuvem, tão rápido que a menina assustou-se sem saber o que se tinha passado. “Espera por mim!” e seguiu-o com algum custo porque ele era rápido e ágil demais para a pobre menina. À medida que iam correndo pelas nuvens a menina apercebeu-se que o gato dirigia-se em direcção a umas nuvens mais escuras, meio acinzentadas.
Já corriam há uns minutos quando um vulto montado numa nuvem cinzenta começava a aproximar-se no horizonte. O gato parou finalmente miando baixinho para a menina que tentava chegar à sua nuvem arfando compulsivamente. Ela olhava atentamente para o vulto que se aproximava vendo que afinal se tratava de um belo rapaz. “Até parece um príncipe”, suspirou internamente.

– Afinal estavas aqui safado! Andei a manhã toda à tua procura – disse o “príncipe” ao chegar perto do gato.

– Estava com uma pata presa numa nuvem. Tive de o ajudar a soltar-se. – respondeu a menina.

– E tu o que estás aqui a fazer? – perguntou ele que ainda não tinha dado pela presença da rapariga – Não devias estar aqui. Ainda é muito cedo para andares por aqui.

Ela explicou-lhe o que lhe tinha acontecido aquela manhã e como tinha aparecido ali, enquanto o “príncipe” afagava o gato feito de chocolate preto e a escutava com atenção.

– Ah! – disse o “príncipe” quando a menina acabou de contar a história – Isso explica muita coisa, mas não podes ficar aqui muito tempo. Houve um erro. Ainda não pertences a este lugar, ainda tens muito que aprender antes de vir para cá.

– Não me podes levar contigo? – perguntou a menina com um olhar doce – Gosto muito deste sítio e não quero voltar já para casa.

– Não! Tens de voltar para o teu armário rapidamente antes que ela te descubra.

– Ela? – perguntou ela com ar curioso – Quem é ela?

– É uma senhora muito velha e às vezes muito má! É ela que transporta as pessoas para o outro lado – respondeu o “príncipe” apontando para as nuvens escuras – Se te vê por aqui vai querer levar-te e aquele lado é muito mau. Não serve para ti, minha pequena. Tens de partir já!

– Mas... e tu? Vais ficar aqui sozinho? Posso ao menos visitar-te de vez em quando? – lacrimejou.
– Não te preocupes comigo. Eu também já pertenço a este lugar há muito tempo e quando chegar a altura certa havemos de nos encontrar, mas ainda é cedo. Segue aquelas nuvens e irás dar ao teu armário.

A menina fez um pequeno beicinho enquanto olhava para o seu “príncipe” e afagava carinhosamente o gato de chocolate preto.

– Adeus gatinho. Vou ter saudades tuas. – disse com uma voz trémula, inclinando-se depois para dar um beijo na face do “príncipe”.

– Agora vai e não olhes para trás. - disse ele apontando-lhe o caminho e a menina partiu em direcção ao seu armário.

O caminho ainda era um pouco longo e quando finalmente a menina chegou ao armário já se encontrava cansada. Antes de entrar ainda olhou à sua volta em forma de despedimento e recolheu uma boa porção de nuvem. “Seria um desperdício não levar um pouco deste algodão doce para casa” pensou.
Ao entrar no seu quarto foi surpreendida pela sua mãe que entrara naquele exacto momento.

– Ainda estás aí? – resmungou a mãe – Vê se te despachas, senão chegas atrasada à escola. O pequeno almoço já deve estar frio. Nem parece teu. O que se passa contigo? Parece que estás nas nuvens.

A menina olhou confusa para o pequeno relógio que tinha ao lado da cama. Só se tinham passado dez minutos desde que ela tinha entrado no armário, mas sabia que isso não era possível pois tinha passado a manhã inteira com o gato e o “príncipe”. “Teria sido um sonho?” pensou. “Não. Ainda tenho aqui algum algodão doce e as minhas roupas estão peganhentas” e voltou a olhar para dentro do armário, mas só viu o seu reflexo no espelho.

Os anos foram passando e a menina cresceu. Nunca falou a ninguém da sua aventura, mas todos os dias de manhã abria o seu armário na esperança de encontrar novamente o céu azul do outro lado, mas nunca encontrou nada além do velho espelho. Até que uma manhã, já a menina estava velhinha, deitada na sua cama, muito doente, quando a porta do seu armário se abriu. Com a pouca força que lhe restava ela sorriu na esperança de rever o seu “príncipe”. Mas o que passou daquela porta não era o “príncipe”. Era uma figura estranha vestida de preto da qual mal se via a cara mas que aparentava ser uma velha senhora. “Deve ser a tal senhora de que o “príncipe” me falou.” pensou a menina assustada mas, mal a velha senhora se aproximou, sentiu uma paz interior que só tinha sentido no meio das nuvens de algodão doce. Estendeu-lhe o braço e calmamente fechou os seus olhos soltando um pequeno suspiro. A velha senhora fez-lhe um festa na testa e voltou para o armário.
O “príncipe” encontrava-se numa nuvem do lado de fora do armário e esperava ansiosamente o regresso da velha senhora. Quando esta saiu, saltou imediatamente para a nuvem mais próxima e fixou-a com uns olhos esbugalhados. “Posso finalmente ficar com ela?” pensou sem chegar a abrir a boca. A velha senhora pôs-lhe a mão no ombro e acenou afirmativamente com a cabeça. Ele agradeceu e entrou no quarto da menina que dormia agora profundamente. Afagou-lhe os longos cabelos que outrora tinham sido dourados, pegou na velha menina ao colo e transportou-a para dentro do armário.
Saltitou por entre as nuvens durante alguns minutos até chegar à décima quarta nuvem, que era suficientemente grande para conseguir pousar a menina e ainda não a tinha pousado totalmente quando ela abriu os olhos. Ela notou, para sua grande surpresa, que tinha voltado a ser uma pequena menina, tal como da primeira vez que ali tinha estado, sorriu e abraçou o “príncipe” fortemente até que o som de um miar a fez olhar para trás. Era o gato de chocolate preto que tinha aparecido para a visitar e trazia com ele a sua família: uma gata feita de chocolate branco e dois filhotes de chocolate de leite. Perante este cenário, a pobre menina não conseguiu conter uma pequena lágrima que lhe escorria agora pela face.

─ Bem vinda. ─ disse o “príncipe” ─ Portaste-te bem e finalmente chegaste aqui.

─ Tive que esperar muito para isso, ─ disse ela comovida - mas valeu a pena. Tinhas razão, ainda era muito cedo. Não estava preparada para desfrutar deste mundo.

─ E ainda não viste nada. Há mais meninos como tu. Anda! ─ disse ele pegando na mão da menina com um enorme sorriso ─ Vou-te mostrar o que está para lá das nuvens.

E juntos dirigiram-se para uma zona onde as nuvens eram de um tom rosa muito forte.

março 13, 2009

Jardim Político

Macacos

- Não tem vergonha de deixar a cidade entregue à bicharada? – perguntaram-me agressivamente noutro dia ao culparam-me de deixar escapar acidentalmente os animais do zoo, acho que as panteras pintaram a manta na cidade.
- Eu? – perguntei atónito porque não fazia ideia do que estavam a falar – A culpa não será de quem votou neles? É que eu votei na oposição!

março 08, 2009

Isto não é um post

Em Branco

Se eu quisesse escrever algo de interessante, abria o computador, deparava-me com o horror de uma página em branco e escrevia a primeira coisa que me viesse à cabeça.

Este não foi o caso!

março 07, 2009

A masturbação da Arte

Draft

Uma produção, profissional ou amadora, deve respeitar alguns princípios básicos tanto a nível criativo como técnico. Não se fazem omoletes sem ovos, logo não se faz um espectáculo sem luz ou som (e principalmente público).
Infelizmente esquecem-se muitas vezes da base das bases criativas e técnicas. Um técnico de som surdo, um técnico de luz cego, um técnico de vídeo (se houver vídeo na peça) estrábico ou míope (de preferência um estrábico míope) mais um apresentador gago e estamos a meio caminho andado para uma mega produção “amadora” cheia de cor, som e fúria.
Mas isto é só o princípio, este é o mal menor. O problema é quando se esquecem do público, quando faltam ao respeito a quem assiste aos seus devaneios.
Não se pode fazer um espectáculo totalmente virado para dentro, egocentrista. Assim deixa de ser um espectáculo e passa a pura masturbação artística. Não se pode fazer um espectáculo esquecendo a quarta parede, ignorando a dezena ou centena de pessoas que está ali a pagar.
Não se pode encher um palco, iluminado por um cego, com uma centena de pessoas ao monte e achar que a coisa vai funcionar. O resultado será uma mancha confusa e só se consegue ver mais ou menos uma meia dúzia de pessoas, os restantes são decoração.
Não se pode fazer um espectáculo com sketches de 5 a 6 minutos e ter 20 minutos de intervalo entre eles (já basta a puta da TVI).
Isto é insultar as pessoas, é uma total falta de respeito, quer pelo público, quer pelos intervenientes (que estão a dar a cara, pela merda que os outros fizeram).
Estou farto de espectáculos que não respeitam o público, que são tão virados para dentro que desligam de tudo o resto que está à volta e isto aplica-se ao teatro, à dança, ao cinema, à performance, à música, etc... Há tanta gente com talento nestas áreas e que está encostada para canto à procura de trabalho e eu pergunto-me: “Porquê??? Porque é que não se chama essas pessoas, nem que não seja só para aconselhamento?”
A arte não deve ser “masturbatória”, a arte deve servir-se, faz-se para agradar alguém e esse alguém não é o autor ou o actor ou o músico ou o dançarino ou o performance… é o público, o que paga para ver, o que no final aplaude em forma de agradecimento (que voltem as pateadas, por favor…). A arte deveria ser no seu expoente máximo o Club Silencio, uma mera ilusão!
É claro que há algumas louváveis excepções como o caso do Coro de S. Tarcísio, um coro amador feito por amadores que apesar de não terem meios, nem dinheiro, conseguem fazer espectáculos com qualidade profissional, sem nunca se esquecerem de agradar a quarta parede que nem sequer tem de pagar para ver os concertos...